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segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Escrito por em 12.10.15 com 2 comentários

Pelota Basca / Handebol Gaélico

Esse é um post que eu planejo escrever há muito, muito tempo, mas, por uma razão ou outra, sempre acabo adiando. Dentre essas razões, estão o fato de não conseguir achar as informações que eu queria, de achar que o post ficaria muito grande caso eu resolvesse colocar tudo o que desejava, e até mesmo o fato de não conseguir me decidir que nome eu daria a ele. Essa semana, motivado pelo aparente sucesso que obtive em finalmente conseguir escrever uma série sobre os World Games, decidi tentar escrevê-lo assim mesmo, e confesso que fiquei bastante satisfeito com o resultado. Faltava somente a questão do nome, e acabei decidindo batizá-lo em homenagem ao mais conhecido dos esportes sobre os quais falarei hoje, a pelota basca.

Que, mesmo assim, não é exatamente um esporte muito conhecido no Brasil. Eu mesmo só conheci a pelota basca graças a um canal espanhol chamado TVE, que fazia parte da grade da Net - não sei se ainda faz, se fizer, não o tenho em meu pacote - e que minha irmã, na época em que estudava espanhol, gostava de assistir. Um dia, ela me chamou para ver um esporte curioso que eles estavam transmitindo, e, a partir daí, sempre que eles novamente transmitiam, se eu tivesse oportunidade, assistia. Não vou dizer que se tornou um dos meus esportes preferidos, e já há muito tempo que eu não assisto a uma partida, mas de vez em quando me lembro dele, e desde que falei sobre squash aqui no átomo que tenho vontade de falar sobre pelota basca também. Hoje, finalmente essa vontade será morta.

A pelota basca, como o nome sugere, teve sua origem no País Basco, região que ocupa territórios atualmente pertencentes à Espanha e à França, e que hoje não é um país independente, embora sua porção espanhola conte com um forte movimento separatista. Mais que lutar por independência, porém, os bascos lutam pela preservação de sua cultura, incluindo seu idioma, completamente diferente do espanhol e do francês, tanto que "basco" em basco é euskara. Essa luta pela preservação da cultura talvez tenha sido a maior responsável pela sobrevivência desse curioso esporte, que, em basco, se chama pilota, palavra derivada de pilus, que significa "pelo" ou "cabelo", pois as primeiras bolas eram feitas de couro recheadas com pelos de animal. Como a maior parte do País Basco fica na espanha, pilota acabaria corrompida para pelota, que, em espanhol, significa "bola". O nome do esporte, portanto, significa "bola basca", acrescentando o local de origem para que ficasse claro que não se trata de qualquer bola.

O objetivo em uma partida de pelota basca é rebater uma bola contra uma parede, o que torna o esporte meio parecido com o squash. Essa não é uma ideia exatamente nova, existindo registros de esportes com esse objetivo na Grécia Antiga, no Egito, na China, e até mesmo na América Central Pré-Colombiana. Estima-se, porém, que a pelota basca tenha surgido somente por volta de 1700, e que teria sido derivada do jeu de paume, esporte que, aqui, é conhecido como tênis real - e sobre o qual eu já falei aqui no átomo. O tênis real, por sua vez, é derivado de outros esportes bem mais antigos, cujos nomes se perderam, e nos quais o objetivo era rebater uma bola para o adversário (sem o uso da parede) usando as mãos nuas. Jogados nas ruas da Idade Média, esses esportes foram ganhando, aos poucos, novos elementos, como uma rede por sobre a qual a bola tinha de passar, luvas especiais para proteger as mãos dos jogadores, e, finalmente, as raquetes.

Em algumas regiões, porém, o uso das raquetes demorou um pouco mais para se popularizar, e os esportes nos quais a bola era rebatida com as mãos nuas continuaram atraindo novos jogadores por um bom tempo. No País Basco, especificamente, eram disputados dois esportes desse tipo, chamados pasaka e laxoa. Não se sabe bem quando nem porquê, mas os praticantes desses esportes, aos poucos, pararam de simplesmente rebater a bola um para o outro, e criaram uma regra segundo a qual a bola, após ser rebatida por um jogador, deveria obrigatoriamente quicar em uma parede antes de ser rebatida por outro. Alguns historiadores atribuem essa inovação ao comércio com os irlandeses: o estatuto da cidade de Galway, na Irlanda, já registrava, no ano de 1527, a proibição de se rebater bolas contra as paredes da cidade como passatempo, e, no século XVIII, o País Basco era o principal parceiro comercial da Irlanda, com os marinheiros bascos realizando seus negócios principalmente no porto de Galway, onde teriam conhecido o passatempo e o levado de volta à sua terra natal, incorporando suas regras aos esportes locais.

A pelota basca permaneceria restrita ao País Basco até meados do século XIX, quando, durante um boom de popularidade, se espalhou pela Espanha e pela França. Através de imigrantes espanhóis, no início do século XX o esporte chegaria também à América Latina, onde se tornaria especialmente popular no México, além de ganhar vários adeptos na Argentina, Chile, Uruguai e Cuba. Curiosamente, foi a federação da Argentina - e não a da Espanha - quem sugeriu que fosse criada uma federação internacional para preservar o esporte original, evitando que ele ganhasse uma versão diferente em cada país. Assim, em 1929, seria fundada, pela união das federações nacionais de Argentina, Espanha e França, a Federação Internacional de Pelota Basca (FIPV da sigla em espanhol; o V fica por conta de que, em espanhol, o nome do esporte se escreve "pelota vasca", pois ela vem do "País Vasco" - a pronúncia é a mesma, porém, com esse V tendo som de B). Responsável por regular o esporte e organizar seus torneios internacionais, hoje a FIPV já conta com 31 membros, quase todos da Europa ou das Américas (sendo as únicas exceções Filipinas, Guiné, Índia e Togo), incluindo o Brasil, representado pela Sociedade Brasileira de Pelota Vasca. Também é interessante notar que somente 7 dos 31 membros (Brasil, Portugal, Polônia, Holanda, Índia, Estados Unidos e Itália) não falam espanhol nem francês.

Atualmente, a FIPV reconhece quatro modalidades de pelota basca, embora a única coisa que mude de uma modalidade para a outra seja o tamanho da quadra na qual a partida é disputada. Dentro dessas quatro modalidades, são contempladas 14 especialidades oficiais, e aí sim há variação nas regras de uma especialidade para a outra.

A quadra na qual a pelota basca é jogada se chama frontón. A principal característica do frontón é que ele só precisa ter, obrigatoriamente, dois muros - a maioria dos frontones tem três; alguns têm quatro, sendo um de acrílico transparente; e existem até mesmo alguns de um único muro, conhecidos como plaza libre, usados em jogos amadores e não considerados oficiais pela FIPV. O muro da frente, chamado frontis (com a sílaba tônica no i, "frontís"), é onde a bola vai quicar entre uma rebatida e outra; o outro muro obrigatório fica à esquerda do frontis, e se chama rebote. À direita do frontis ficam as arquibancadas, onde se sentarão os espectadores, podendo haver um muro de acrílico transparente entre as arquibancadas e a área de jogo para evitar boladas e demais acidentes. O muro paralelo ao frontis não tem nome, e costuma nem estar presente na maioria dos frontones, que o substituem por apenas uma linha no chão.

Seja qual for a modalidade, todos os muros do frontón têm 10 metros de altura, e o frontis tem 11 metros de largura (assim como o muro de trás, se existir). O comprimento do rebote vai depender da modalidade: na modalidade conhecida como frontón 30 metros, o rebote tem 30 metros; na conhecida como frontón 36 metros, frontón corto ("curto") ou pared izquierda, o comprimento é de, adivinhem, 36 metros; já na modalidade conhecida como frontón 54 metros, frontón largo ou jai alai, o comprimento é de 54 metros; finalmente, na modalidade chamada trinquete, o comprimento é de 28,5 metros. O trinquete possui uma "casinha" (por um acaso chamada trinquete), semelhante à penthouse de uma quadra de tênis real, com 2 metros de altura e 5 metros de largura, projetada para dentro da área de jogo, e que tem um telhado inclinado a 25 graus, o que faz com que a área de jogo seja menor e tenha um elemento extra para as jogadas.

O frontis possui uma linha que delimita as jogadas válidas, sendo comum que, dessa linha para baixo, haja uma faixa de metal, para que o som denuncie se a bola quicou ali; no frontón 30 metros e no trinquete essa linha é traçada a 60 cm de altura; nas outras duas modalidades, a 1 metro de altura. Se os muros do frontón tiverem mais de 10 metros de altura, é marcada uma linha limite, no frontis e no rebote, a 10 metros, sendo que a bola, obviamente, também não pode quicar acima dela. Ambas essas linhas têm 15 cm de largura, e são consideradas parte da área de jogo - se a bola quicar sobre a linha, a jogada é válida. As demais marcações do frontón ficam no chão, e também têm 15 cm de largura cada; a mais simples delas é a linha de lado, que delimita a área de jogo em relação às arquibancadas - em frontones com muro direito de acrílico, o muro não fica sobre essa linha, mas um pouco adiante. Paralelamente ao frontis, são traçadas 10 outras linhas, que se prolongam para o rebote até uma altura mínima de 1 metro. Essas linhas são chamadas cuadros, e são numeradas de 1 a 10; a linha de número 4 é conhecida como falta, e a de número 7 é conhecida como pasa, razão pela qual, em alguns frontones, elas são identificadas não por seus números, mas pelas letras F e P - também não é incomum que elas sejam de cor diferente das demais, normalmente em amarelo enquanto as outras são brancas. No frontón 30 metros e no trinquete, a distância do frontis para o cuadro 1 e de cada cuadro para o seguinte é de 3 metros, enquanto nas outras duas modalidades é de 4 metros.

As regras da pelota basca são até bastante simples: no início da partida, um dos jogadores, por sorteio, é escolhido para sacar. Ele deve sacar do cuadro 4, mas pode fazê-lo parado sobre a linha ou vindo correndo do cuadro 6. Não é permitido sacar "por cima", com a bola obrigatoriamente tendo de quicar no chão antes de ser rebatida. Uma vez rebatida, a bola deve quicar no frontis, entre as linhas-limite; é permitido que a bola quique no rebote antes de no frontis ou depois de no frontis e antes de quicar no chão, mas nunca em ambos - exceto no trinquete, onde a bola, após um saque, só pode quicar no frontis e no chão. Imediatamente após um saque, ao quicar no chão, a bola deve quicar entre os cuadros 4 e 7: se quicar antes do cuadro 4, será ponto para o adversário; se quicar depois do cuadro 7, o sacador terá direito a uma nova tentativa, mas, se nessa nova tentativa a bola quicar além do cuadro 7 novamente, será ponto para o adversário.

Uma vez que a bola quique no chão, o outro jogador deverá rebatê-la em direção ao frontis. Nessa rebatida, ela pode quicar em um máximo de dois muros (no rebote e então no frontis, no frontis e então no rebote ou no frontis e então no telhadinho do trinquete, nunca no muro de acrílico ou no muro traseiro) antes de quicar no chão, e só pode quicar no chão uma vez antes de ser rebatida. Os jogadores se alternam nas rebatidas até que um deles cometa um erro; os erros mais comuns são deixar a bola quicar duas vezes no chão, fazer a bola quicar em três muros antes de no chão, fazer a bola quicar abaixo da linha-limite inferior ou acima da superior, tocar a bola com outra parte do corpo que não as mãos, ou fazer a bola quicar além da linha de lado, além da linha de fundo, no muro de acrílico ou no muro traseiro. Toda vez que um jogador comete um erro, é ponto para o adversário. Se o jogador que estava sacando pontuou, ele continua sacando; se foi o adversário quem pontuou, será a vez do adversário sacar. O jogo continua até que um dos dois jogadores marque 22 pontos, sempre com, no mínimo, dois pontos de vantagem (ou seja, se empatar 21 a 21, vence quem marcar 23, e assim por diante). O normal é que cada partida se resolva com um único jogo, mas alguns torneios são disputados em melhor de três jogos, sendo vencedor quem ganhar dois primeiro.

Algumas especialidades também permitem o jogo em duplas (parejas), que tem exatamente as mesmas regras do individual. No jogo em duplas, um dos jogadores se posiciona sempre mais à frente, mais próximo do frontis, sendo conhecido como delantero, enquanto o outro se posiciona mais atrás, sendo conhecido como zaguero. Os jogadores de uma mesma dupla se alternam no saque, mas qualquer um dos dois pode rebater a qualquer tempo, sem ser necessário respeitar uma ordem para as rebatidas.

A pelota basca tradicional, na qual a bola é rebatida com as mãos, sem o auxílio de qualquer tipo de raquete, é hoje chamada de pelota mano. Quatro das especialidades da FIPV são jogadas com as regras da pelota mano: a mano frontón individual, a mano frontón parejas, a mano trinquete individual e a mano trinquete parejas. É importante salientar que a pelota mano é exclusivamente masculina, ou seja, não existe nenhum torneio feminino organizado pela FIPV nessas quatro especialidades - embora possam existir torneios regionais e jogos amadores. As especialidades de mano frontón são disputadas na modalidade frontón 36 metros, e usam uma bola de couro recheada com pelo de cavalo, de aparência parecida com uma bola de beisebol. A bola deve ter entre 60 e 62 mm de diâmetro e pesar entre 101 e 107 gramas, sendo que o recheio deve pesar entre 30 e 35 g. As especialidades de mano trinquete usam uma bola mais leve, com peso entre 90 e 92 g e peso do recheio entre 20 e 23 g. É permitido aos jogadores proteger a palma das mãos com esparadrapos, mas não é permitido nenhum outro material entre o esparadrapo e a pele.

A segunda especialidade mais antiga é a chamada pala corta, na qual a bola é rebatida com uma raquete especial. Feita de madeira de faia, ela é cortada em uma única peça, sem emendas, tem 51 cm de comprimento, largura máxima (na cabeça) de 11,5 cm, espessura entre 2 e 4,5 cm, e peso entre 600 e 800 g. A bola também é de couro recheado com pelos, mas é menor, com entre 50 e 58 mm de diâmetro e pesando entre 85 e 90 g, com o recheio pesando entre 34 e 38 g. Oficialmente, a pala corta é exclusivamente masculina, jogada apenas no individual e na modalidade frontón 36 metros. A pala corta descende de uma variação do jogo, chamada pala larga ou apenas pala, que usa uma raquete maior, de 60 cm de comprimento, e o frontón de 54 metros, mas que não é considerada oficial pela FIPV.

A pala corta daria origem à paleta cuero, que usa uma raquete parecida, mas mais curta, mais larga e mais leve, com comprimento máximo de 50 cm, largura máxima de 13,5 cm, espessura entre 2 e 3 cm e peso entre 550 e 600 g. A raquete não precisa ser de uma única peça de madeira, podendo ser feita de lâminas de madeira coladas. A bola (também feita de couro, cuero, em espanhol) também é menor, com entre 46 e 48 mm de diâmetro e peso entre 50 e 52 g. Duas especialidades da FIPV usam as regras da paleta cuero, a paleta cuero frontón (modalidade frontón 30 metros) e a paleta cuero trinquete; curiosamente, na frontón o recheio da bola deve pesar entre 18 e 20 g, enquanto no trinquete deve pesar entre 15 e 18 g, mas o peso total da bola é o mesmo para ambos, o que significa que a bola da trinquete tem menos recheio. Mais uma vez, as especialidades da paleta cuero são exclusivamente masculinas.

Em seguida temos a paleta goma, variação do jogo inventada na Argentina, e que usa uma bola de borracha (goma, em espanhol) e raquetes de madeira. As raquetes se parecem um pouco com raquetes de tênis de mesa, a podem ser feitas de uma única peça ou de várias lâminas de madeira coladas, podendo ter cobertura de borracha ou alumínio no cabo e proteções de borracha entre o cabo e a cabeça. Cada raquete tem no máximo 55 cm de comprimento, 20 cm de largura, 1 cm de espessura e 500 g de peso. A bola é oca, feita de duas metades de borracha coladas, e tem em seu interior um gás que faz com que ela quique mais rápido e mais alto; tem diâmetro máximo de 40 mm e pesa entre 35 e 40 g. Três das especialidades da FIPV são jogadas com as regras da paleta goma: a paleta goma frontón (modalidade frontón 30 metros), a paleta goma trinquete masculino e a paleta goma trinquete femenino. Existe uma variação chamada paleta goma maciza, inventada na Espanha, jogada no frontón de 36 metros e que usa uma bola de borracha maciça, mas não é considerada oficial pela FIPV.

Outra especialidade que usa raquetes é a chamada xare (também conhecida como share ou sare, todas as formas pronunciadas "cháre"), palavra que significa "rede" em basco. Esse nome vem do formato da raquete, feita de um aro de madeira com uma rede no meio; para confeccioná-la, usa-se uma tira de madeira comprida, de aspecto semelhante a um bambu, mas de alguma madeira maleável como castanheira, que será envergada até ficar no formato de uma raquete, com o cabo sendo amarrado com tiras de borracha, o que faz com que ela não fique totalmente reta, mas um pouco curva para a frente. A rede dessa raquete é feita de corda, e não é rígida como a de uma raquete de tênis, e sim folgada, por isso, a bola nessa especialidade não é exatamente rebatida, mas impulsionada pela raquete. A raquete deve ter no máximo 55 cm de comprimento, mas não há regras quanto à largura ou peso. A bola é feita de couro recheado com pelos, tendo diâmetro máximo de 50 mm e peso máximo de 83 g, com o recheio tendo entre 33 e 35 g. O xare também é exclusivamente masculino, e só é jogado na modalidade trinquete.

A especialidade mais curiosa é a chamada cesta punta, também conhecida como zesta punta ou jai alai. Mais uma vez exclusivamente masculina, essa especialidade usa uma espécie de cesta curva presa ao braço do jogador, com a qual a bola deve ser recolhida e impulsionada - normalmente com um giro do braço ou do corpo inteiro, o que deixa o esporte bastante plástico - em direção ao frontis. Os melhores jogadores conseguem fazer com que a bola alcance até 300 Km/h em cada impulso. A cesta é feita de madeira de castanheira esculpida e curada para ficar em seu formato característico, com a presilha do pulso sendo feita de couro. Da presilha até o início da curva, a cesta tem entre 52 e 68 cm de comprimento, mas, se pudesse ser esticada, chegaria a 1 metro. A bolsa onde a bola é recolhida tem aproximadamente 15 cm de profundidade. O peso total máximo da cesta é de 500 g. A bola, mais uma vez feita de couro recheado de pelos, tem diâmetro máximo de 70 mm, peso entre 115 e 130 g e peso do recheio entre 90 e 115 g - o que faz com que ela seja não somente a maior, mas também a de menos camadas de couro. A cesta punta é a única especialidade oficial disputada na modalidade frontón 54 metros, e descende de outra variação, chamada joko garbi ("jogo puro" em basco), que usa não uma cesta, mas uma luva semelhante à do beisebol, e hoje não é considerada oficial pela FIPV. Outra modalidade semelhante, bastante popular na Espanha e chamada remonte, usa uma cesta de plástico, com 70 cm de comprimento, apenas 7 cm de profundidade e peso entre 350 e 400 g, mas também não é considerada oficial pela FIPV.

Finalmente, temos a especialidade mais recente, o frontenis, criado no México, que tem esse nome porque usa raquetes de tênis. A bola é semelhante à da paleta goma, mas maior, com 47 mm de diâmetro e pesando entre 47 e 49 g. O frontenis é disputado na modalidade frontón 30 metros, e suas especialidades são o frontenis masculino e o frontenis femenino, ambos individuais - na América Latina também são disputadas provas de frontenis em duplas, mas essas não são consideradas oficiais pela FIPV.

A competição mais importante da pelota basca é o Campeonato Mundial, disputado desde 1952, a princípio a cada três anos, mas, desde 1958, a cada quatro. Atualmente, são disputadas todas as 14 especialidades oficiais no Mundial. Desde 1997, atualmente a cada 3 anos, também é disputada a Copa do Mundo de Trinquete, apenas com as seis especialidades dessa modalidade. A pelota basca também já fez parte das Olimpíadas, em quatro ocasiões: em 1900, em Paris, França, ela fez parte do programa oficial dos Jogos, mas com apenas um jogo, de cesta punta, mas em duplas, disputado entre Espanha e França, com vitória dos espanhóis. Em 1924, novamente em Paris, a pelota basca retornaria como esporte de demonstração, dessa vez com três eventos, mano frontón individual, pala corta e cesta punta, mais uma vez tendo cada evento apenas um jogo entre espanhóis e franceses, todos os três sendo vencidos pela Espanha. Em 1968, na Cidade do México, mais uma vez como esporte de demonstração, finalmente teríamos um torneio sério, com diversos participantes e variados vencedores em cada um dos cinco eventos: mano frontón individual, pala corta, paleta goma frontón, cesta punta e frontenis masculino. A última participação foi em 1992, em Barcelona, Espanha, com 10 eventos: mano frontón individual, mano frontón parejas, mano trinquete parejas, pala corta, paleta cuero frontón, paleta cuero trinquete, paleta goma trinquete masculino, cesta punta, frontenis masculino e frontenis femenino. A FIPV até tenta fazer com que a pelota basca retorne aos Jogos Olímpicos como parte do programa, mas o baixo número de países praticantes é um grande entrave a essas pretensões.

Se esse fosse um post apenas sobre pelota basca, eu não teria ficado em dúvida quanto ao seu nome. Por isso, vamos rapidinho ver alguns esportes parecidos, começando pela paleta frontón. Derivada da pelota basca, a paleta frontón surgiu no Peru na década de 1940, e, ao longo dos anos, ganhou tanta popularidade que hoje é considerada o esporte nacional do Peru, com espaços próprios para sua prática existindo em praticamente todas as cidades, e um forte e disputado campeonato nacional. Ao contrário da paleta goma e do frontenis, porém, a paleta frontón não é considerada uma especialidade da pelota basca pela FIPV, por um motivo muito simples: apesar de seu nome, ela não é jogada em um frontón.

A paleta frontón é jogada em uma quadra (chamada cancha) que possui um único muro (o frontis), de 5 m de altura por 6 m de largura. Os primeiros 20 cm do frontis, a partir do solo, possuem uma faixa de metal de 1 cm de espessura, chamada lata. A área de jogo, curiosamente, é mais larga que o frontis, tendo 8,6 m de largura e 12,8 m de comprimento; nela, existem marcações delimitando o jogo de simples (que só usa uma área de 7,6 m de largura por 12 m de comprimento, a área total só é usada no jogo de duplas) e a área de serviço (um retângulo de 7,5 m de largura por 5,5 m de comprimento, dividido ao meio no comprimento, e que começa a 6,5 m do frontis). Finalmente, a área até 1,5 m de cada linha de lado e até 3 m da linha de fundo, conhecida como contracancha, não é usada durante o jogo, mas deve permanecer livre durante toda a partida, sem qualquer objeto.

Os jogadores usam uma raquete para rebater a bola, que pode ser feita de madeira ou de materiais sintéticos como fibra de carbono e fibra de vidro. A raquete pode ter um cabo de borracha ou madeira, mas não pode ter nenhum detalhe ou elemento em metal. Seu comprimento deve estar entre 48 e 52 cm, sua largura máxima entre 18 e 20 cm, e seu peso entre 200 e 400 g. A bola é feita de borracha sólida, tem entre 69 e 73 mm de diâmetro, e pesa entre 41 e 45 g. A paleta frontón é disputada tanto no masculino quanto no feminino, de forma individual ou em duplas, e ainda em duplas mistas.

No início do jogo, um dos jogadores saca, devendo fazê-lo de dentro da área de serviço. A bola deve quicar no frontis e no máximo uma vez no chão, dentro da área de jogo, antes que o outro jogador a rebata em direção ao frontis. Toda vez que um jogador comete um erro, como, por exemplo, deixar a bola quicar duas vezes no chão, fazer com que a bola quique fora da área de jogo, ou acertar a lata com a bola, será ponto para o adversário. Independentemente de quem marcou ponto, cada jogador tem direito a cinco saques seguidos antes de passar a vez - ou seja, o jogador que começou sacando sacará durante os cinco primeiros pontos, então seu adversário sacará durante os cinco seguintes, e assim por diante. Na partida de duplas, os jogadores da dupla se alternam no saque, mas a rebatida é livre, com qualquer um dos dois podendo rebater em qualquer ordem. Ganha o jogo quem primeiro chegar a 15 pontos no jogo individual ou a 21 pontos no jogo de duplas, devendo sempre existir uma diferença mínima de 2 pontos - ou seja, no jogo individual, se empatar 15 a 15, ganha quem fizer 17, e assim por diante. Partidas de duplas são sempre disputadas em melhor de três jogos, com a dupla que ganhar dois primeiro sendo a vencedora; partidas individuais, dependendo do torneio, podem ser disputadas em melhor de três ou em melhor de cinco jogos - nesse caso, o vencedor é quem primeiro ganhar três deles.

A paleta frontón é regulada pela Federación Deportiva Peruana de Paleta Frontón (FDPPF), e sua prática é restrita ao Peru, sendo o esporte praticamente desconhecido em outros países, até mesmo nos vizinhos; por causa disso, seus principais torneios são regionais e nacionais, sem qualquer previsão de serem disputadas competições internacionais. Vale citar como curiosidade que a FDPPF também é a federação nacional peruana para a pelota basca, e, portanto, é membro da FIPV.

Pois bem, lembram-se do esporte jogado na cidade de Galway, na Irlanda, que supostamente teria influenciado a criação da pelota basca? Ele continuou sendo praticado na Irlanda, até que, em 1884, teve suas regras codificadas pela Associação Atlética Gaélica (GAA), uma espécie de centro de tradições esportivas da Irlanda, que lhe deu o nome de handebol gaélico. O handebol gaélico é um dos quatro esportes regulados até hoje pela GAA, e um dos principais motivos que me levaram a escrever esse post, já que eu já havia falado aqui no átomo sobre os outros três (hurling, futebol gaélico e rounders). Diferentemente do que ocorre com os outros três esportes da GAA, entretanto, o handebol gaélico goza de uma certa projeção internacional, sendo praticado hoje em mais de 30 países dos cinco continentes, em muitos dos quais é conhecido por um nome registrado pela GAA, GAA Handball.

O handebol gaélico possui quatro modalidades. A principal delas, mais popular na Irlanda, e disputada em outros 10 países na Europa, Américas e Oceania, se chama 40x20, nome que deriva das dimensões da quadra usada, sendo também conhecida como four-wall, pois a quadra tem quatro muros. Criada em 1969 para ajudar na popularização do esporte, a 40x20 usa uma quadra cujos muros frontais e traseiros possuem 20 pés (6 m) de altura por 20 pés de largura, e os muros laterais possuem 40 pés (12 m) de comprimento por 20 pés de altura. A única marcação na quadra é a área de serviço, um retângulo de 1,52 m de largura demarcado a 4,57 m do muro frontal; o jogador que está sacando deve fazê-lo de dentro da área de serviço, e o que está recebendo deve se posicionar obrigatoriamente atrás dela. A bola é feita de borracha sólida, possui entre 46,8 e 48,4 mm de diâmetro, e pesa entre 58 e 64 gramas. Como a bola é muito veloz e bastante dura, é obrigatório o uso de óculos de proteção e de luvas especiais por todos os jogadores.

A modalidade mais antiga e mais tradicional, hoje disputada apenas na Irlanda, se chama 60x30, novamente por causa das dimensões da quadra, que também tem quatro muros, com o frontal e o traseiro medindo 27 pés (8,22 m) de altura por 30 pés (9 m) de largura, e os laterais tendo 60 pés (18 m) de comprimento por 27 pés de altura. A área de serviço possui o mesmo tamanho e distância do 40x20. O 60x30 original é hoje conhecido como hardball, pois sua bola, feita de um núcleo de cortiça envolto em couro, com entre 45,7 e 49,5 mm de diâmetro e peso entre 42,5 e 49,6 g, é extremamente dura. Não são necessários óculos nem luvas especiais, mas os jogadores usam uma proteção feita com esparadrapos nas mãos para não feri-las com a bola.

No início do século XX, surgiria, usando a mesma quadra, a terceira modalidade, chamada softball, pois usa uma bola mais macia que as demais, feita de borracha e com entre 55,8 e 63,5 mm de diâmetro e pesando entre 61 e 62 g.

A quarta e última modalidade é a que mais cresce no mundo. Conhecida como one-wall ou Wall Ball, ela usa uma quadra que tem apenas um muro, de 20 pés (6 metros) de largura por 16 pés (4,8 metros) de altura, tendo a área de jogo outros 34 pés (10,3 metros) de comprimento. A área de jogo é demarcada com uma linha cheia a 4,8 m do muro, atrás da qual o jogador que vai receber a bola deve se posicionar, e por uma linha segmentada a 2,74 m do final da área de jogo, onde o jogador que está sacando deve ficar para sacar. A bola usada é a mesma do 40x20. Os jogadores devem usar óculos de proteção, mas as luvas não são obrigatórias. O one-wall é hoje jogado em 33 países, o que levou a GAA a fundar a Associação Mundial de Wall Ball (WWBA) para regular o esporte internacionalmente e tentar incluí-lo nas Olimpíadas.

Todas as quatro modalidades do handebol gaélico são disputadas no masculino e no feminino, individual e em duplas, e todas possuem as mesmas regras: um dos jogadores saca, da área de serviço, em direção ao muro frontal. A bola deve quicar no muro frontal, e, ao retornar, quicar no máximo uma vez no chão antes de ser rebatida pelo adversário. Exceto após um saque, a bola pode quicar em qualquer número de muros, e inclusive no teto, antes ou depois de quicar no muro frontal. Se o jogador que não estava sacando cometer um erro, será ponto para o que estava sacando, que continuará sacando; se o que estava sacando cometer um erro, o adversário passará a sacar, mas não ganhará ponto - em outras palavras, só pode pontuar quem estiver sacando. Vence o jogo quem primeiro alcançar 21 pontos, e as partidas são disputadas em melhor de três jogos, com aquele que ganhar dois primeiro sendo o vencedor - com o terceiro jogo, se necessário, terminando em 11 pontos, e não em 21. No jogo de duplas, os jogadores se alternam no saque, mas as rebatidas são livres.

Atualmente, todos os torneios do handebol gaélico são regionais ou nacionais, sendo o mais importante o All-Ireland Championship. Um dos maiores entraves para a realização de torneios internacionais é que o handebol gaélico ainda é um esporte 100% amador, de forma que todos os atletas têm de arcar com os custos de viagem para disputar os torneios. A WWBA, por exemplo, trabalha há alguns anos com a possibilidade de organizar um torneio internacional de one-wall, mas sempre esbarra na questão financeira.

Levado por imigrantes irlandeses, o handebol gaélico daria origem a dois outros esportes. O primeiro é o handebol americano, cujo primeiro registro escrito data do ano de 1873 na cidade de São Francisco, Califórnia. Apesar de também ser 100% amador, o handebol americano é um esporte bastante famoso nos Estados Unidos, tanto que, por lá, é conhecido apenas como handball, sendo o "outro" handebol - aquele bastante praticado aqui no Brasil, jogado por times que tem como objetivo fazer gols - por lá é chamado de team handball. Aliás, se alguém ainda não reparou, esse handebol não é muito popular nos Estados Unidos, sendo um dos poucos esportes nos quais os norte-americanos não se destacam.

O handebol americano possui três modalidades, todas disputadas no masculino e no feminino, de forma individual, em duplas e em um esquema de jogo conhecido como cutthroat, disputado por três jogadores em quadra simultaneamente. Duas das modalidades, a four-wall e a three-wall, usam a mesma quadra e a mesma bola do 40x20, com a three-wall tendo a diferença de não possuir o muro traseiro nem o teto. A terceira modalidade, chamada one-wall, é idêntica ao one-wall gaélico, em quadra, bola e regras. As regras do handebol americano, aliás, são idênticas às do handebol gaélico; se não fosse pela three-wall e pelo cutthroat, seria o mesmo esporte.

O segundo esporte derivado do handebol gaélico é o handebol australiano, criado, adivinhem, na Austrália, com os primeiros registros datando de 1923. O handebol australiano é absolutamente idêntico ao handebol americano, com as únicas diferenças sendo que não existe o cutthroat e que a modalidade mais popular é a three-wall - nos Estados Unidos, a mais popular é a one-wall. Tanto o handebol americano quanto o handebol australiano são praticados exclusivamente em seus países de origem, e possuem apenas campeonatos regionais e nacionais. E parece pouco provável que, algum dia, um deles se torne um esporte disputado internacionalmente, principalmente por suas semelhanças com o handebol gaélico, que já está bem mais espalhado pelo mundo.

Para terminar, temos outro esporte aparentado, o frontón internacional, também conhecido como one-wall internacional. Criado na Espanha na década de 1960, teoricamente para reunir características do handebol americano, do handebol australiano, do handebol gaélico e da pelota basca, o frontón internacional também é idêntico ao one-wall gaélico, exceto pela bola (feita de borracha sólida, com 4,8 cm de diâmetro e 65 gramas de peso) e pelas dimensões: o muro tem 6,1 metros de largura por 4,875 (pois é) metros de altura, e área de jogo tem 10,6 metros de comprimento, com a linha cheia a 4,875 metros do muro e a linha segmentada a 2,735 metros do final da área de jogo. As partidas são disputadas no masculino e no feminino, individual ou em duplas.

O frontón internacional é regulado pela Confederação Internacional de Jeu de Balle (CIJB), que também regula dois outros esportes, o llargues e, evidentemente, o jeu de balle. Mas, como nesses esportes o objetivo não é rebater a bola contra uma parede, não falaremos deles hoje. Mas vale falar que a CIJB, que possui 18 países membros, sendo cinco europeus, um asiático (a Índia) e 12 latino-americanos, organiza, a cada dois anos, desde 1996, um torneio chamado Campeonato Mundial de Handebol. O frontón internacional masculino faz parte desse torneio desde 2002, e o feminino desde 2010.
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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Escrito por em 24.11.14 com 0 comentários

Beisebol (II)

Essa semana eu tive uma ideia legal para um post: existem, pelo mundo, vários esportes semelhantes ao beisebol, no qual o objetivo é atingir uma bola com um bastão e sair correndo; quando eu fiz o post sobre beisebol, entretanto, eu só falei sobre beisebol e softbol - depois eu também fiz um sobre críquete, mas isso não vem ao caso. Essa semana, pensei em fazer um novo post falando sobre mais esportes desse tipo, mais ou menos como eu fiz quando escrevi o post sobre hóquei. O post é esse aqui, e, por falta de nome melhor, ele se chamará Beisebol (II).

pesäpalloVamos começar pelo que é considerado o que deu origem ao beisebol, o rounders. Curiosamente, a primeira referência escrita ao jogo de rounders, que data de um livro de 1744, o chama de base-ball, nome pelo qual suas variações, criadas nos Estados Unidos, é que se tornariam conhecidas (falando nisso, o beisebol que existe hoje é uma de duas variações, a outra tinha regras um pouco diferentes, e acabou extinta). A primeira menção ao nome "rounders" data de outro livro, de 1828, o primeiro a trazer a descrição de suas regras. A codificação das regras do rounders seria feita alguns anos mais tarde, em 1884, na Irlanda, pela Associação Atlética Gaélica (GAA), que existe até hoje e, na falta de uma federação internacional, é considerada o órgão máximo, além do rounders, de três outros esportes, o handebol gaélico, o hurling e o futebol gaélico (sendo que esses dois últimos também já ganharam um post aqui no átomo). As regras da GAA eram um pouco diferentes das adotadas na Inglaterra - onde, por exemplo, os bastões, as bolas e o campo eram de tamanho menor - por isso, em 1943, foi fundada a Rounders England, responsável por codificar o jogo no Reino Unido. Atualmente, a versão da GAA é mais famosa, sendo jogada também em países com número significativo de imigrantes irlandeses (inclusive na Inglaterra), enquanto a versão da Rounders England é jogada apenas na Inglaterra, Escócia e País de Gales.

Pelas regras da GAA, o campo de rounders é um quadrado de 70 metros de lado. Em um dos vértices desse quadrado fica a home plate, sobre a qual o rebatedor se posiciona. Seguindo as linhas do quadrado, à direita do rebatedor fica a primeira base, e, à esquerda, a terceira, ambos a 25 metros da home plate. A 25 metros da primeira e da terceira, bem de frente com a home plate, fica a segunda base - em outras palavras, o circuito das bases forma um quadrado menor, de 25 metros de lado, que compatilha o vértice da home plate com o quadrado maior, de 70 metros. A bola é feita de couro, cheia de tecido ou espuma, e tem entre 22,7 e 25,5 cm de circunferência; o bastão, cilíndrico, é feito de madeira, plástico ou metal, e pode ter entre 70 e 110 cm de comprimento e até 7 cm de diâmetro, de acordo com a preferência do jogador. As bases são almofadas quadradas de 46 cm de lado, exceto a home plate, que tem 68 cm. Diferentemente do que ocorre no beisebol, no rounders nenhum jogador usa luvas.

Um time de rounders possui nove jogadores, mais três reservas que podem substituir qualquer um deles enquanto a bola não estiver em jogo, mas com a condição de que um substituído não pode mais voltar. Quando o time estiver atacando, todos os nove atuarão como rebatedores, seguindo uma ordem estabelecida pelo técnico, que deve ser mantida durante todo o jogo. Quando o time estiver defendendo, um dos jogadores será o catcher, e ficará ajoelhado atrás do rebatedor para pegar as bolas que ele não conseguir rebater. Outro será o arremessador, e ficará dentro de um quadrado de 64 cm de lado a 12 metros de distância da home plate, em uma linha reta na direção da segunda base. Os outros sete ficarão espalhados pelo campo, nas seguintes posições: um ao lado de cada base (primeira, segunda e terceira), um dentro do quadrado menor entre a segunda e a terceira base, e os outros três além das linhas do quadrado menor, um próximo de cada linha lateral e um próximo ao vértice de frente com a home plate.

Cada rebatedor tem três chances para acertar uma bola lançada pelo arremessador, que deve arremessar a bola por baixo como no softbol. Diferentemente do beisebol, quando o rebatedor acerta a bola, não é obrigado a correr. Se o rebatedor acertar a bola mas não correr, se a acertar mas ela cair fora dos limites laterais do campo (além das linhas à direita e à esquerda da home plate; exceto se for a última chance), ou se o arremessador lançar a bola em um local que seria impossível para ele acertar ou atingi-lo com a bola, ele ganha uma nova chance (ou aquela não é deduzida de suas três, o que dá no mesmo). Se o rebatedor não conseguir acertar uma bola nessas três chances, ele é eliminado. Se conseguir e decidir correr, ele deve ir para a primeira base, e, se houver um jogador lá, deve ir para a segunda, e assim sucessivamente. Um jogador que passe pelas três bases e chegue à home plate marca um ponto (chamado "rounder" como o jogo). Um jogador não é obrigado a passar pelas bases uma por uma; se ele sentir segurança, pode tentar ir para a base seguinte após alcançar a anterior na mesma jogada.

Também diferentemente do beisebol, o rebatedor deve correr levando o bastão - aliás, se ele deixar o bastão cair durante a corrida, estará eliminado. Além de ser eliminado por largar o bastão ou por não acertar a bola em três chances, um jogador pode ser eliminado por rebater a bola além das linhas laterais na terceira e última chance, por não sair de uma base antes de um companheiro chegar lá, ou por atrapalhar de propósito qualquer jogador adversário, incluindo o catcher. Depois que o rebatedor rebate a bola, os jogadores do time defendendo também podem pegá-la e tentar fazer com que ela chegue à base antes do rebatedor que está correndo; se o jogador que pegou a bola pisar na base antes do que está correndo, ou se encostar a bola nele, ele também está eliminado. Uma vez que três jogadores tenham sido eliminados, os times trocam de posição, com o que estava atacando passando a defender e vice-versa. Uma vez que ambos tenham atacado e defendido, termina uma entrada. Uma partida é composta de cinco entradas, sendo entradas extras disputadas caso o jogo não possa terminar empatado.

Pelas regras da Rounders England, o campo tem apenas 36 metros de lado, e o quadrado menor apenas 12 metros. A bola tem entre 18 e 20 cm de circunferência, e o bastão deve ter no máximo 46 cm de comprimento, 5,5 cm de diâmetro e pesar no máximo 370 gramas. Ao invés de almofadas, as "bases" são marcadas com pequenos postes de madeira de 50 cm de altura e 5 cm de diâmetro. Curiosamente, se o arremesso for válido (se o arremessador não lançar a bola fora do alcance do bastão nem atingir o rebatedor), o rebatedor será obrigado a correr, tendo acertado a bola ou não - e levando o bastão. Um jogador que complete o circuito das bases após ter acertado a bola marca um ponto (rounder), enquanto um que o complete sem ter acertado a bola marca meio ponto (half-rounder). Se um jogador receber duas bolas inválidas seguidas, for atrapalhado na corrida entre as bases por um adversário ou alcançar duas bases com uma mesma corrida, independentemente de ter acertado a bola ou não, também marca meio ponto. Um rebatedor é eliminado se um defensor pegar uma bola rebatida por ele antes que ela toque o chão, se um defensor pegar a bola e fizer com que ela chegue à base antes dele, se largar o bastão, tocar na metade de cima do poste que demarca a base, ou se não sair da base antes que um colega chegue até lá - nesse caso, ambos são eliminados. Após nove jogadores serem eliminados, os times trocam de função, e, após mais nove eliminações, termina uma entrada. Uma partida é composta de duas entradas, mais entradas extras caso seja necessário um desempate. Mas a característica mais curiosa eu deixei para o final: nas regras da Rounders England, a home plate é apenas o local onde se posiciona o rebatedor; para completar o circuito das bases, o rebatedor deve correr da terceira para a quarta base, que se localiza em ângulo reto em relação à terceira e à home plate, a 12 metros de cada.

campo de rounders, regras da Rounders EnglandA Rounders England não foi a primeira entidade a codificar o rounders na Inglaterra. Bem antes dela, em 1892, uma outra, chamada English Baseball Association, já havia codificado o esporte. Curiosamente, porém, ao fazê-lo, ela decidiu não usar o nome rounders, e sim o nome beisebol. Essa versão do rounders também existe até hoje, mas é conhecida como beisebol britânico. Atualmente, apenas Inglaterra e País de Gales possuem federações e torneios desse esporte, que é até bem parecido com o rounders da Rounders England, com as únicas diferenças sendo a ausência da quarta base (servindo a home plate como quarta base como de costume), o fato de que cada time tem 11 jogadores (e cada entrada só termina com 11 eliminados) e que a bola é idêntica à do beisebol, mas o bastão é chato como o de críquete, com entre 50 e 60 cm de comprimento. No beisebol britânico, o jogador só corre quando atinge a bola, e ganha um ponto para cada base na qual pisa (completar o circuito de bases, portanto, vale 4 pontos). Assim como no rounders da GAA, cada jogador tem três chances para acertar a bola, sendo eliminado se não conseguir.

Vamos agora para a Finlândia, lar do pesäpallo, único dos esportes de hoje a já ter feito parte do programa olímpico - foi esporte de demonstração em Helsinque, 1952, com uma partida disputada entre dois times finlandeses. O pesäpallo (que significa "bola no ninho" em finlandês) foi inventado em 1922 por Lauri Pihkala, atleta e fanático por esportes, que chegou a competir nas provas do salto em altura e do arremesso de disco nas Olimpíadas de 1908 e nos 800 metros nas de 1912. O objetivo de Pihkala era criar um jogo que combinasse características dos esportes tradicionais finlandeses de bola e bastão com as do beisebol norte-americano, do qual gostava, mas achava pouco dinâmico. O esporte rapidamente ganhou popularidade, com a Pesäpalloliitto (a Associação Finlandesa de Pesäpallo) sendo fundada em 1931 e o primeiro campeonato nacional masculino sendo disputado em 1932.

O campo de pesäpallo pode ser de terra batida, gramado ou de grama sintética. Seu formato é o de um triângulo sobre um retângulo, mais ou menos como uma casa desenhada por uma criança. No vértice do triângulo, que tem um ângulo de 45 graus e 32 metros de lado (com as linhas que delimitam os lados delimitando também a área válida de jogo), fica a home plate, um semicírculo de 7 metros de raio, com um menor, de 5 metros dentro, e uma almofada redonda, de 60 cm de diâmetro e entre 3 e 5 cm de altura, bem no meio, sobre a qual ficará o rebatedor. dos outros dois vértices do triângulo se unem às linhas do retângulo, que tem no mínimo 60,5 e no máximo 96 metros de comprimento. Seguindo pela linha do triângulo à direita do rebatedor, a 20 metros da home plate, fica a primeira base, um semicírculo de 3 metros de raio. A segunda e a terceira bases também são semicírculos de 3 metros de raio, e ficam uma de cada lado do retângulo, a 3,5 metros de cada ponto onde ele se encontra com o triângulo. As três bases não possuem almofadas, sendo apenas marcações no campo.

A bola é feita de material sintético, é de cor amarela, bastante dura, tem entre 21,6 e 22,2 cm de circunferência e pesa entre 160 e 165 g para os homens e entre 135 e 140 g para as mulheres. Os bastões são cilíndricos, feitos de uma mistura de fibra de vidro e fibra de carbono, e devem ter no máximo 1 metro de comprimento, 5,6 cm de diâmetro, e pesar entre 580 e 620 gramas. Todos os jogadores do time que está atacando devem usar capacetes, e todos os do time defendendo devem usar luvas, que são bem diferentes das do beisebol, menores, mais acolchoadas e mais curvas.

O arremessador não fica posicionado de frente com o rebatedor, e sim a seu lado, dentro do círculo menor da home plate. O arremesso, no pesäpallo, é feito na vertical, ou seja, com a bola sendo lançada para cima e sendo atingida pelo rebatedor quando estiver caindo. Para que um lançamento seja considerado válido, a bola deve subir pelo menos um metro acima da cabeça do rebatedor, e, se não for rebatida, cair dentro do círculo menor da home plate. Cada rebatedor tem três arremessos válidos para conseguir acertar a bola, mas, se acertar, não é obrigado a correr, podendo optar por gastar uma dessas três tentativas e continuar tentando. Se o rebatedor rebater mas optar por não correr, não conseguir rebater um arremesso válido, ou rebatê-lo para fora da área de jogo, ele gasta uma das tentativas; gastando as três, ele é eliminado. Um arremesso que não seja válido não conta como tentativa, e, se não houiver ninguém na primeira base, o rebatedor pode andar até lá "de graça"; se houver, ele só pode andar se ocorrerem dois arremessos inválidos seguidos - nesse caso, quem já está na primeira passa para a segunda e assim sucessivamente. Uma vez que rebata a bola e decida correr, o rebatedor tem que largar o bastão e chegar na primeira base antes da bola, que será pega por alguém do time defendendo e passada pelos companheiros até chegar até lá. Da mesma forma, quem estava na primeira corre para a segunda, e assim sucessivamente, devendo chegar nas bases antes da bola para não ser eliminado.

Para marcar um ponto, o jogador tem que percorrer todo o circuito das bases, voltando ao círculo maior da home plate; curiosamente, ele não faz esse circuito em linha reta como no beisebol, e sim ziguezagueando pelo campo - com o trajeto da terceira base até a home plate sendo bem mais comprido que os outros três. Se um mesmo jogador percorrer todo o trajeto de uma vez só (no que, no beisebol, seria um home run), ele marca o ponto, mas tem o direito de retornar à terceira base para tentar marcar mais um ponto na jogada seguinte. Uma regra curiosa é que, se a bola for pega no ar, sem tocar o chão antes, o jogador que a rebateu não estará eliminado; todos os jogadores que não estejam em uma base, porém (como, por exemplo, os que estão correndo de uma base para outra), deverão retornar para a fila dos rebatedores, perdendo seus lugares nas bases.

campo de pesäpalloUma equipe de pesäpallo tem doze jogadores. Quando o time está defendendo, um deles será o arremessador, e outros oito assumirão posições de defesa no campo, normalmente um em cada base, dois no meio do caminho entre as bases, um bem do lado da segunda base e dois no fundo do campo, embora as posições mudem de acordo com o tipo de jogada que o ataque está aparentando tentar executar. Os outros três jogadores, conhecido como jokers (palavra inglesa que significa "piadista" ou "bufão", mas aqui é usada no sentido de "curinga" por causa do nome em inglês da carta do curinga no baralho), jamais entram em campo quando o time está defendendo. Quando o time está atacando, os nove jogadores que atuam quando o time está na defesa formam uma fila, e devem rebater na ordem dessa fila; os três jokers não precisam respeitar a ordem da fila, podendo "furá-la" para rebater a qualquer momento. Como é muito difícil errar uma rebatida, a estratégia do jogo consiste em diferentes configurações de ataque e defesa, com os jogadores sendo bastante especializados em algumas funções - por isso o uso dos jokers no ataque, que tenta surpreender o adversário. Uma das características mais curiosas do pesäpallo é que o capitão de cada time pode passar instruções referentes à estratégia para os demais jogadores através de um código de cores, usando papeletas coloridas que são seguradas como um leque. Cada time tem seus próprios códigos, e o uso dos leques é para que um não decifre a estratégia do outro.

Uma partida de pesäpallo dura dois sets de quatro entradas cada; ao final da quarta entrada de cada set, o time com mais pontos ganha aquele set, e o seguinte começa zerado. Se o jogo terminar empatado, com um set para cada equipe, é jogada uma nona entrada de desempate, e, se o empate persistir, uma disputa na qual os times, alternadamente, começam no ataque já com um jogador na terceira base, sendo perdedor o time que não conseguir completar a corrida para a home plate após a rebatida sem seu jogador ser eliminado. Cada entrada é dividida em duas metades, sendo que o time que ataca em uma defende na outra. Uma metade termina quando três jogadores do time atacando são eliminados, ou se todos os 12 rebatedores do time atacando já tiverem rebatido pelo menos uma vez e esse time não tiver marcado pelo menos dois pontos nessa entrada.

A Finlândia possui um campeonato profissional de pesäpallo, com times fortes e bastante populares, chamado Superpesis. Levado por imigrantes, o pesäpallo chegou a países como Suécia (onde se chama boboll), Alemanha, Austrália, Japão, Suíça e Canadá, sendo que os três primeiros também possuem federações nacionais e até campeonatos amadores ou semi-profissionais, o que permitiu a criação da Copa do Mundo de Pesäpallo (organizada pela Pesäpalloliitto, já que ainda não existe uma federação internacional). Já foram organizadas três edições da Copa do Mundo, em 2006, 2009 e 2012, com a seguinte prevista para 2015; todas as edições contaram apenas com Finlândia, Alemanha, Suécia e Austrália (embora Japão e Estônia tenham manifestado interesse em participar da próxima), sendo que a Finlândia, evidentemente, ganhou todas.

Da Finlândia vamos para a vizinha Suécia, onde existe um esporte chamado brännboll. Criado na cidade de Umea a partir das regras do beisebol, o brännboll tira seu nome do termo usado para indicar que um jogador está eliminado, bränna (que, em sueco, significa "queimado"). O brännboll é um esporte exclusivamente amador, não contando com federações nacionais nem com regras unificadas, e sendo jogado, em sua maioria, por estudantes, já que faz parte do programa de educação física de muitas escolas; ainda assim, o esporte saiu da Suécia e se espalhou pelos vizinhos, sendo hoje também praticado na Noruega (onde se chama slaball), Dinamarca (rundbold) e Alemanha (brennball). Por não ter regras unificadas, fica meio difícil determinar quais seriam as "oficiais", já que cada um joga como quer; eu optei por comentar aqui as regras usadas em Umea, onde, uma vez por ano, acontece um festival chamado Brännbollscupen, o mais próximo que existe de um campeonato de brännboll.

O campo de brännboll não tem uma medida fixa. Seu ponto mais importante é o local onde o rebatedor se posiciona; esse local será o vértice de um ângulo reto, cujas linhas imaginárias determinam a área válida de jogo - ou seja, a área na qual a bola tem que cair para que a rebatida seja considerada válida. A mais ou menos dois metros à direita dessa posição fica a primeira base, e, a mais ou menos oito metros à esquerda, fica a quarta base. Com a segunda e terceira bases elas formarão um quadrado de mais ou menos dez metros de lado.

Um time de brännboll possui sete jogadores. Quando o time está no ataque, todos farão uma fila, rebatendo a bola de acordo com a ordem em que entraram nela. Quando o time está defendendo, os jogadores se posicionam um na diagonal entre a primeira e a terceira base, um entre a segunda e a terceira base, um entre a terceira e a quarta base, e três além da linha entre a segunda e a terceira bases, nas posições que julgarem melhor; o que sobra fica próximo à primeira base, sobre uma base de cor diferente chamada "base de eliminação".

campo de brännbollNo brännboll não existe arremessador; o próprio rebatedor joga a bola para cima ou a quica no chão e, então, a rebate. A bola usada normalmente é uma bola de tênis, ou outra que quique de forma semelhante; o bastão pode ser um bastão de beisebol, de críquete ou até mesmo uma raquete, dependendo do nível de experiência do jogador. Uma vez que o rebatedor rebata a bola, se ela for em direção à área de jogo válida (se a bola não for em direção à área de jogo válida após ser rebatida, ele tenta de novo), ele larga o bastão e corre para a primeira base. O objetivo dos jogadores de defesa será pegar a bola e jogá-la para o que está na base de eliminação. Como vocês devem estar imaginando, se a bola chegar na base de eliminação antes de o jogador chegar na base, o jogador será queimado - não eliminado, queimado. O rebatedor não precisa parar na primeira base; se tiver segurança, pode continuar correndo até a segunda, terceira ou quarta, mas, se a bola chegar na base de eliminação enquanto ele estiver no meio do caminho, será queimado. Outra curiosidade é que um jogador não é obrigado a trocar de base só porque outro está se encaminhando para a base na qual ele está, não existindo um limite para o número de jogadores que pode ocupar uma mesma base.

Uma das razões para essa regra é que, ao contrário do que vocês estão imaginando, um jogador queimado não sai do jogo, e sim retorna para a base que estava antes (como a primeira base fica a dois metros do local da rebatida, é praticamente impossível ele ser queimado antes de chegar à primeira base, mas, se acontecer, ele rebate de novo). Um jogador que consiga chegar à quarta base marca pontos para seu time, e entra no final da fila dos rebatedores. Após um intervalo de tempo pré-determinado, normalmente 15 minutos, acaba uma entrada, independentemente de quantos jogadores tenham sido queimados ou tenham pontuado. Na entrada seguinte, os times inverterão os papéis, com o time que estava defendendo agora rebatendo e vice-versa. Normalmente, um jogo dura quatro entradas, com o time com mais pontos ao final da quarta sendo vencedor, e entradas extras sendo jogadas para desempatar se necessário.

No brännboll, ambos os times podem pontuar a cada entrada: cada jogador do time atacando que pise na quarta base marca um ponto para o time atacando, mas cada jogador queimado vale um ponto para o time defendendo. Se a fila de rebatedores se esgotar - ou seja, se todos os jogadores estiverem nas bases, sem nenhum para rebater - o time defendendo ganha cinco pontos, e a entrada termina automaticamente. E, caso três jogadores ou mais do time atacando alcancem a quarta base com uma mesma rebatida, o time atacando ganha seis pontos de bônus.

Vamos agora para a Romênia, onde existe um esporte chamado oina. E um esporte muito antigo: a primeira referência escrita ao oina data de 1370, em um tratado sobre a região da Valáquia. Ninguém sabe ao certo, porém, como o jogo teria surgido, sendo aceitas duas teorias, a de que ele teria sido criado por pastores, no campo, como passatempo, e a de que teria sido criado por soldados para treinar para a guerra. Seja lá como for, no século XIX houve um forte movimento para transformar o oina no esporte nacional da Romênia, que culminou em 1899, quando o Ministro da Educação da época determinou que ele deveria ser incluído em todas as aulas de educação física das escolas romenas, e organizou o primeiro torneio intercolegial nacional de oina. Graças a isso, o esporte começou o século XX com uma popularidade crescente, que levou ao surgimento da Federação Romena de Oina, em 1932, e dos primeiros clubes profissionais. Hoje, o oina é um dos esportes mais populares da Romênia, e é jogado profissionalmente também na vizinha Moldova. Aliás, esses são os dois únicos países do mundo com federações nacionais desse esporte, mas o sonho da Federação Romena é criar uma Federação Internacional; para isso, ela está dando suporte para a criação de times e campeonatos de oina na Bulgária e Sérvia, países vizinhos de grande população de ascendência romena, e na Suécia, que demonstrou interesse no esporte.

Em termos de regras, o oina é bastante diferente dos demais esportes desse post. Para começar, seu campo é retangular, com 70 metros de comprimento por 32 de largura. A 5 metros de cada linha de fundo, é traçada uma linha conhecida como linha de jogo, que determina as três áreas do campo: de um lado, a zona de rebater, do outro, a zona de fundo, e, entre as linhas, a área de jogo. Centralizados na linha que divide a zona de rebater da área de jogo temos dois semicírculos: um de 3 metros de raio, dentro da zona de rebater, com duas pequenas linhas de 1 metro de comprimento cada se prolongando a partir dos locais onde ele toca a área de jogo para dentro desta, e um de 1 metro de raio, dentro da área de jogo. O rebatedor, que pertence ao time que está atacando, ficará dentro do semicírculo de 3 metros.

campo de oinaE ainda não acabou: a área de jogo é dividida ao meio, no sentido do comprimento, por uma outra linha, que separa a área de jogo em uma área de avanço (à esquerda do rebatedor) e uma área de retorno (à direita). A cada 15 metros, a área de jogo é novamente dividida, por linhas paralelas às de fundo. Nas interseções entre essas linhas paralelas e a linha e central, e nos pontos onde essas linhas paralelas tocam as linhas de lado, existem nove círculos de 2 metros de diâmetro cada, dentro dos quais ficarão os jogadores do time que está defendendo. Finalmente, na zona de rebater, a 1 metro da linha de fundo, do lado direito do rebatedor, é traçada uma linha de 10 metros de comprimento chamada linha de espera, onde se posicionarão os rebatedores que esperam por sua vez.

No início do jogo, dois dos jogadores do time atacando se posicionarão dentro do semicírculo de 3 metros, cada um no espaço entre a linha que o delimita e a que delimita o de 1 metro. O primeiro da fila de rebatedores (o qual chamaremos de Jogador A) será o rebatedor, enquanto o segundo (Jogador B) será o arremessador. O arremessador jogará a bola para o rebatedor, que a rebaterá com o bastão, tentando jogá-la o mais longe possível, e então largará o bastão e sairá correndo pela área de avanço, tentando chegar à zona de fundo. O jogador do time defendendo mais próximo da bola, então, correrá para pegá-la, voltará para sua posição (dentro de um dos círculos de 2 metros) e a jogará para um companheiro. Esse companheiro poderá jogá-la para outro companheiro (sem limite de vezes em que isso pode ser feito) ou arremessá-la na direção do rebatedor que agora está correndo para a zona de fundo. Se acertá-lo, o time defendendo ganha dois pontos, a menos que a bola acerte as palmas das mãos do rebatedor; nesse caso, ele continua correndo, e outro jogador do time defendendo pode ir lá pegar a bola e repetir o processo. Sendo acertado ou não, o rebatedor continua correndo em direção à linha de fundo até chegar lá; a única diferença é que, se ele for acertado, o time defendendo, como já foi dito, faz dois pontos (sendo que ele só pode ser acertado uma vez), e, se não for, o time defendendo não faz ponto. Também é importante notar que os jogadores de defesa podem sair de dentro dos círculos para pegar a bola, mas só podem tentar acertar os oponentes se estiverem com os dois pés dentro do círculo.

Uma vez que o Jogador A chegue à zona de fundo, o Jogador B se torna o rebatedor, e o Jogador C se torna o arremessador. O processo é repetido, sendo que, agora, o Jogador A deve voltar correndo pela área de retorno, e também pode ser acertado no meio do caminho pelos jogadores do time defendendo (que farão dois pontos se o acertá-lo). O Jogador B, que está correndo pela área de avanço, também pode ser acertado normalmente. Mais uma vez, sendo acertado ou não, o Jogador A só termina sua corrida na zona de rebater, quando sai do jogo. O processo se repete até que todos os rebatedores tenham rebatido (no último deles, o Jogador A volta a campo apenas para atuar como arremessador). Uma vez que todos os rebatedores tenham alcançado a zona de rebater após correr para lá e para cá, uma das metades do jogo, chamada repriza, termina, e, após um intervalo de 15 minutos, o jogo retorna para a segunda repriza com as posições invertidas (o time que estava atacando agora está defendendo e vice-versa). Ao final da segunda repriza, o jogo termina, e o time com mais pontos é declarado o vencedor. É possível um jogo terminar empatado, sendo marcado um jogo-desempate caso seja um jogo eliminatório.

Mas não é só o time defendendo que pode marcar pontos; dependendo de onde caiu a bola após ser rebatida, o time atacando também os marca: se a bola passar pela linha que divide a área de jogo da zona de fundo, o time atacando marca dois pontos; se ela cair entre a última linha paralela e a linha que divide a área de jogo da zona de fundo, o time atacando marca um ponto. Um jogador que marque ponto não é obrigado a correr, podendo se posicionar fora do semicírculo, de frente com a área de avanço; a regra permite que até dois jogadores se posicionem desa forma, correndo juntos assim que o rebatedor seguinte rebater, para confundir o time adversário. Da mesma forma, um jogador que alcance a zona de fundo sem ser acertado pode optar por não correr na jogada seguinte, "correndo em dupla" na próxima.

Cada time de oina possui onze jogadores. Quando o time está atacando, todos começam na linha de espera, se tornando rebatedores e arremessadores de acordo com a ordem da fila. Quando o time está defendendo, nove deles se posicionam nos círculos de 2 metros, um por círculo, ficando o capitão do time (normalmente o jogador mais experiente) no círculo do meio; os outros dois ficam um na zona de rebater, ao lado do arremessador, e um na zona de fundo, em frente à linha central, para que os dos círculos não precisem correr muito para pegar bolas que caiam nessas zonas. A partida é oficiada por dois árbitros, um posicionado à direita da zona de rebater e um à esquerda da zona de fundo. Cada time pode ter cinco reservas, sendo que as substituições podem ser feitas a qualquer momento em que a bola não esteja em jogo, mas um jogador substituído não pode mais voltar ao jogo. A bola é feita de couro, tem 8 cm de diâmetro, e é cheia de pelo de cavalo, porco ou boi, pesando 140 g. O bastão é feito de madeira, parece o do beisebol, mas é mais curto, com 80 cm de comprimento, e mais fino, com 3,5 cm de diâmetro.

Para terminar, vamos ao lapta, o representante da Rússia. Na época da União Soviética, o lapta (que se pronuncia "laptá") era um dos esportes mais populares do país, com mais de 40 campeonatos regionais e um forte campeonato nacional; atualmente, embora alguns desses campeonatos ainda existam na Rússia, o lapta perdeu grande parte de seu prestígio, sendo praticado, em sua maioria, por crianças nas escolas.

O lapta é jogado em um campo gramado com entre 40 e 55 metros de comprimento por entre 25 e 40 metros de largura, podendo, inclusive, ser quadrado (40x40), embora o retangular seja bem mais comum. Em um dos lados do campo, centralizado, fica um círculo de 50 cm de diâmetro; a 10 metros da linha de fundo do lado onde está esse círculo há uma linha, chamada kon. O objetivo é rebater a bola para além dessa linha, soltar o bastão e sair correndo, até alcançar a linha de fundo do outro lado, e então, se possível, voltar correndo até a linha do lado do círculo. Atualmente, a bola usada é uma bola de tênis, mas o bastão é próprio, feito de madeira, com 60 cm de comprimento e 10 cm de largura, com uma empunhadura de 3 cm de diâmetro, chato como o do críquete, e não cilíndrico como o do beisebol.

diagrama de um campo de laptaUm time de lapta é composto de seis jogadores. No time que está atacando, os seis formarão uma fila, e rebaterão a bola na ordem em que a formaram, se posicionando dentro do círculo para fazê-lo; no time que está defendendo, eles se posicionarão além da kon, e terão como objetivo pegar a bola rebatida e atingir o jogador oponente que está correndo com ela. Assim como no oina, o rebatedor seguinte da fila atua como arremessador, se posicionando ao lado do círculo e jogando a bola para cima com um movimento característico, dobrando os joelhos e com o braço totalmente esticado. O rebatedor tem duas chances para rebater a bola para além da linha, e, se conseguir, corre. Se alcançar a linha de fundo do outro lado sem ser atingido pela bola, marca um ponto; se conseguir voltar sem ser atingido, marca mais dois (para um total de três). A pegadinha é que, se ele correr até o outro lado sem ser atingido, resolver voltar, e for atingido na volta, não marca nenhum - nem mesmo o que marcaria por ter alcançado o outro lado. Em compensação, se ele achar que não é seguro voltar, ele pode ficar parado do lado de lá, garantindo o ponto, e voltar (obrigatoriamente) quando o rebatedor seguinte rebater a bola; nesse caso, porém, ele só marcará um ponto no retorno se não for atingido (para um total de dois) ou nenhum se for (mas continuará com o ponto da ida, para um total de um). Jogadores que retornem para o lado onde são feitas as rebatidas entram no final da fila de rebatedores. Um jogador que erre suas duas chances para rebater a bola também volta para o final da fila.

Uma partida de lapta dura dois tempos de 30 minutos cada. Ao final do primeiro tempo, os times trocam de posição, com o que estava atacando passando a defender e vice-versa. Ao final, quem tiver mais pontos é o vencedor. Se o jogo não puder terminar empatado, é jogada uma prorrogação de dois tempos de 10 minutos cada. Como só o time atacando pode marcar pontos, se o time no segundo tempo ultrapassar a pontuação que seu rival fez no primeiro, o jogo termina automaticamente.

O lapta é o mais antigo de todos os esportes de bola e bastão, tendo registros escritos datados da Idade Média, com bastões e bolas do século XIV podendo ser encontrados em vários museus russos. Segundo os russos, foi ele quem deu origem ao beisebol, ao críquete, ao rounders e ao oina, ao ser levado por imigrantes russos para os Estados Unidos, Inglaterra e Romênia. Estudiosos desses países, evidentemente, não consideram essa versão como verídica.
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sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Escrito por em 6.11.09 com 0 comentários

Hurling / Futebol Gaélico

Mês passado, eu fiz aqui um post sobre lacrosse, sob a alegação de que sentia falta de falar sobre um esporte que não fosse muito conhecido da população brasileira em geral. Mas, por incrível que pareça, quando decidi que escreveria mais um post sobre um esporte exótico, o lacrosse não foi o primeiro que me veio à cabeça. Na verdade, eu pensei em um ainda mais exótico e mais desconhecido, que acabou só não virando post porque eu me lembrei do lacrosse em seguida, e achei que um post sobre lacrosse seria melhor.

Mas sabe como é, quando a gente sente vontade de fazer um post e não o faz, aquele bichinho fica zanzando dentro da cabeça da gente, de vez em quando zumbindo como quem diz que só vai sair quando o post for escrito. E, como ele é um bichinho muito teimoso, a única forma de fazer com que ele saia é mesmo escrevendo o post. Por isso, hoje é dia de um post sobre hurling!

hurlingSim, existe um esporte chamado hurling. Se você presta atenção no que eu escrevo, inclusive, já deve até ter visto uma frase sobre ele aqui. Aliás, foi justamente ao escrever essa frase, no meu já longínquo post sobre as Olimpíadas de 1904, que eu descobri que ele existia. Graças ao milagre da internet, eu consegui descobrir suas regras, e até o achei bastante interessante. Agora, assistir hurling é outro papo; acho que o único meio é pelo YouTube, porque uma televisão daqui jamais se interessará em transmitir uma partida. Isso porque o hurling é um esporte tradicional da Irlanda, e, por maior que seja a colônia irlandesa no Brasil, provavelmente a audiência não justificaria o televisionamento. E, antes que alguém faça essa piada nos comentários, sim, viajar para a Irlanda também é uma forma de assistir a uma partida.

Considerado o esporte coletivo mais veloz do mundo, o hurling não somente é um dos esportes mais tradicionais da Irlanda, como também é um dos esportes mais antigos do planeta, com relatos de partidas anteriores ao início dos registros da história irlandesa. A mais provável origem para o esporte é a de que ele tenha sido criado pelos celtas, que, como de costume, o jogavam com times de centenas de jogadores de cada lado, cada time representando um clã ou tribo. Várias lendas irlandesas, como o Táin Bó Cuailgne e a lenda dos Fianna, descrevem partidas de hurling, e já no Código de Brehon, uma das primeiras legislações irlandesas, datada do Século V, há uma menção a esse esporte.

Como todo esporte muito antigo, o hurling foi mudando e se adaptando ao longo dos anos, para que suas partidas se tornassem menos confusas e mais atraentes ao público. O Século XVIII, em especial, é conhecido como a Era de Ouro do hurling, com diversas alterações nas regras que aumentaram a popularidade do jogo, e diversos times disputando campeonatos. A primeira tentativa de codificar o jogo, porém, só ocorreria uns cem anos mais tarde, em 1879, com a fundação da Irish Hurling Union, em Dublin, que tinha o objetivo de padronizar as regras do hurling para jogos disputados em todo o território da Irlanda. Depois disso, com o Século XX, veio um grande período de organização do esporte, com o estabelecimento de vários clubes e campeonatos de sucesso, que transformaram o hurling no segundo esporte mais popular da Irlanda - e aos poucos começou a espalhá-lo por outros países, levado por imigrantes irlandeses.

Certo, e como se joga hurling? Para começar, diferentemente do que o nome possa dar a entender ("hurl", em inglês, é o verbo "arremessar"), no hurling ninguém arremessa nada. Na verdade, o jogo se parece com o hóquei, com cada jogador usando um taco para conduzir a bola. Este taco, chamado camán, é feito de madeira, tem entre 70 cm e 1 m de comprimento, e uma ponta levemente inclinada, redonda e chata, como se fosse um taco de golfe. Com este taco, os jogadores conduzirão a bola, chamada sliotar (se pronuncia "shliter"), que se parece com uma bola de beisebol, feita com um núcleo de cortiça envolvido com uma capa de couro, medindo entre 23 e 25 cm de circunferência e pesando entre 110 e 120 g. O hurling não é considerado o esporte mais veloz do mundo à toa: uma pancada bem dada na bola pode fazer com que ela viaje a mais de 150 Km/h, o suficiente para fazer com que ela quase vá de um gol ao outro em uma única tacada. Diferentemente de outros jogos onde a bola alcança tal velocidade, porém, no hurling os jogadores não são obrigados a vestir nenhuma proteção especial, embora possam jogar com capacetes, protetores bucais e luvas especiais, chamadas ashguards, se quiserem. Os goleiros também não têm nenhum tipo de proteção extra, mas devem usar um taco diferente, maior, chamado bas, que os auxilia nas defesas, além de um uniforme de cor diferente do restante do time, para que sejam identificados mais facilmente.

Uma diferença fundamental entre o hurling e o hóquei, porém, é que, no hurling, a bola não corre pelo chão sendo impulsionada pelo taco: no hurling, a bola é carregada pelo taco. Isso mesmo, o jogador deve equilibrar a bola na parte maior do taco enquanto corre pelo campo, ou ficar quicando ela no taco, como se fosse uma daquelas raquetes em que a bola é presa por um fio. O jogador até pode pegar a bola com a mão, mas não pode dar mais de quatro passos com a bola na mão, não pode passá-la de uma das mãos para a outra, não pode passá-la da mão para o taco e de volta para a mão mais de três vezes seguidas, e não pode arremessá-la para um companheiro com a mão - para passar a bola, ele deve usar o taco, ou bater nela com a mão espalmada; nesse caso, é o "tapa" que deve impulsionar a bola, não o movimento do braço, e mesmo assim esse tapa só pode ser usado para passar a bola, nunca para marcar um gol. Como também seria muito difícil proibir a bola de correr pelo chão, ela até pode, mas nenhum jogador pode bater com o taco na bola para impulsioná-la, ao estilo hóquei, enquanto ela estiver no chão, devendo levantá-la primeiro. Também é proibido pegar uma bola do chão diretamente com as mãos; ela sempre deve ser levantada com o taco ou com o pé antes que um jogador possa pegá-la.

O hurling é jogado em um campo gramado de 137 a 145 metros de comprimento por 80 a 90 metros de largura - maior que um campo de futebol, portanto. Curiosamente, ao invés de uma linha no meio do campo, existem duas, cada uma a no mínimo 7 metros da metade do campo, e no máximo a 65 metros da linha de fundo. Cada metade do campo conta ainda com três outras linhas, uma a 45 metros, uma a 20 metros e uma a 13 metros da linha de fundo. Essas linhas são utilizadas como referência em várias faltas - por exemplo, durante a cobrança de um pênalti, nenhum jogador, à exceção do goleiro que tentará defendê-lo, pode ficar entre a linha de 20 metros e a linha de fundo - além de servirem para delimitar as partes do campo que cada jogador cobrirá, de acordo com a posição em que joga. Além dessas linhas, as únicas outras marcações no campo são as áreas - um retângulo de 19 m de largura por 13 m de comprimento, com um menorzinho, de 14 m de largura por 4,5 m de comprimento dentro - e dois semicírculos de 13 m de raio, centrados nas linhas de 20 metros. Os goleiros possuem alguns privilégios enquanto estão dentro da área, embora possam sair dela e jogar pelo campo todo normalmente se desejarem. Uma regra curiosa em relação à área é a que diz que nenhum jogador do time que está atacando pode entrar na área carregando a bola se já houver um jogador de seu time lá dentro.

No final das áreas, sobre as linhas de fundo, ficam os elementos mais importantes do jogo de hurling: os gols. Assim como no rugby, o gol do hurling tem o formato de um H, com 6 m de altura, 6,4 m de largura, e com a barra do meio a 2,44 m do chão. Diferentemente do rugby, a metade de baixo, protegida pelo goleiro, tem uma rede, como a do gol do futebol. Durante o jogo, acertar a rede vale 3 pontos, e se chama gol, enquanto jogar a bola por sobre a barra do meio, entre as barras laterais, vale 1 ponto, e se chama simplesmente ponto - evidentemente, porque é mais fácil acertar a parte de cima, maior e sem goleiro, que a de baixo. O placar de uma partida de hurling não é obtido somando os gols e pontos, mas registrando-os separadamente, com os gols primeiro. Assim, um time que faça dois gols e treze pontos terá um placar de 2-13. Para se determinar o vencedor de uma partida, a quantidade de gols e pontos é irrelevante, valendo sua soma; um placar de 0-20, portanto, ganharia deste placar de 2-13 (que soma 19), mesmo sem o time do 0-20 ter marcado nenhum gol.

Cada time de hurling conta com nada menos que 15 jogadores, sendo um goleiro, três defensores, três meio-defensores, dois meios de campo, três meio-atacantes e três atacantes. Estas posições são mais ou menos fixas, com cada jogador sendo responsável por uma função e por uma determinada parte do campo - os defensores, por exemplo, costumam jogar entre a linha de fundo e a de 45 metros, enquanto os meio-atacantes jogam entre a linha de 65 metros e a de 45 metros do adversário - embora eventualmente um jogador possa "abandonar" sua posição original para concluir uma jogada, não sendo punido por "ultrapassar seu limite". Além dos 15 titulares, cada time pode ter até 5 reservas. As substituições podem ser feitas a qualquer momento em que a bola esteja parada, e um jogador que sai não pode mais voltar.

Além de uma infinidade de jogadores, o hurling também tem uma infinidade de árbitros: são oito ao todo, sendo um árbitro principal, que corre junto aos jogadores, marcando faltas e irregularidades; quatro (dois de cada lado do campo, atrás das linhas de fundo) responsáveis pela marcação e validação dos gols e pontos; dois (um de cada lado, junto à linha lateral) responsáveis por controlar as saídas de bola, indicando a qual time pertence a reposição, além de auxiliar o árbitro principal na marcação de faltas; e um responsável por controlar o tempo de jogo e as substituições. Uma partida de hurling dura dois tempos de 35 minutos cada, sendo que, como no futebol, o relógio não para nunca, e o árbitro principal pode seguir com o jogo após os 35 minutos para descontar o tempo em que a bola ficou parada. Um jogo de hurling pode terminar empatado, mas, se isto não for possível - se for um jogo eliminatório, por exemplo - é jogada uma prorrogação de dois tempos de dez minutos cada. Persistindo o empate, é marcado um jogo-desempate.

O hurling deve ser o único esporte do mundo no qual as versões masculina e feminina têm nomes diferentes: o hurling feminino se chama camogie. Essa diferença no nome surgiu do fato de que o taco usado na época pelas mulheres, menorzinho que o dos homens, se chamava camóg, o diminutivo de camán. Originalmente, em irlandês, ambos os esportes recebiam seus nomes dos tacos, e se chamavam camánaíocht e camógaíocht; quando o hurling foi codificado pela primeira vez, porém, optaram por usar o nome pelo qual o esporte era conhecido na língua inglesa, que por sua vez havia sido "emprestado" de outro esporte, originário da Cornualha, e que não tinha nada a ver com o hurling irlandês. O camogie só seria codificado em 1904, e, na ocasião, a Associação Irlandesa de Camogie decidiu por um meio termo, uma anglicização do nome original, o que transformou o cámogaíocht em camogie.

Além do nome, o camogie possui algumas outras diferenças em relação ao hurling, algumas porque as regras do hurling foram alteradas ao longo dos anos, enquanto as do camogie permaneceram mais fiéis às originais, outras porque, quando da codificação, decidiram que o jogo seria mais atraente às mulheres se fosse um pouco diferente. Para começar, embora atualmente os tacos de camogie já sejam os mesmos do hurling, as bolas são menores, com 21 cm de circunferência e entre 90 e 110 g de peso. O jogo de camogie também é mais curto, com dois tempos de 30 minutos cada. As goleiras do camogie não contam com nenhum privilégio especial dentro da área, e, portanto, não precisam usar uniformes de cor diferente. Após cada gol, as goleiras repõem a bola com uma tacada da linha de 13 metros, enquanto no hurling a reposição é com uma tacada da linha de fundo. Finalmente, no camogie é permitido marcar gols tanto com tacadas quanto com o tapa na bola. Há alguns outros detalhes diferentes, como a proibição das jogadas ombro a ombro no camogie, mas estas são as principais.

Nem o hurling nem o camogie possuem federações internacionais; o hurling é regulado pela Associação Atlética Gaélica (GAA), uma espécie de centro de tradições esportivas da Irlanda, fundada em 1884 com o objetivo de conservar e promover os esportes tradicionais irlandeses. Foi a GAA a maior responsável pelo crescimento do hurling no Século XX e por sua expansão internacional, com a fundação de GAAs espalhadas ao redor do mundo. O camogie ainda é regulado até hoje pela Associação Irlandesa de Camogie, que entretanto é filiada à GAA, o que também contribui para a expansão do esporte.

Além de em sua Irlanda natal, hoje o hurling e o camogie são disputados em mais de 20 países. Todas as competições de hurling e camogie, entretanto, são disputadas por clubes, filiados a sete GAAs (Irlanda, Grã-Bretanha, Estados Unidos, Canadá, Europa, Ásia e Australásia), não existindo seleções nacionais destes esportes (com exceção das seleções irlandesas, que uma vez por ano jogam uma partida de hurling e uma de camogie contra as seleções escocesas masculina e feminina de shinty, outro esporte semelhante ao hóquei, usando regras híbridas). Na verdade, até mesmo competições "internacionais" de hurling - entre clubes de GAAs diferentes - são raras, o que leva a todos os clubes a praticamente só jogarem contra os demais de sua própria GAA. Uma das razões para isso é que, por imposição da GAA irlandesa, todos os esportes gaélicos devem ser amadores, ou seja, seus praticantes não podem viver do esporte, o que impede que os campeonatos de hurling e camogie tenham estruturas comparáveis às de outros esportes.

Mas existe, como sempre, uma exceção: o All-Ireland Senior Hurling Championship, o principal campeonato irlandês de hurling, disputado entre os principais clubes de hurling do país, e seu equivalente no camogie, o All-Ireland Senior Camogie Championship. Disputados respectivamente desde 1887 e 1932, os All-Ireland atraem multidões aos seus jogos, especialmente às finais, disputadas sempre no mês de setembro. Também vale registrar que o hurling quase já foi esporte olímpico, já que foi incluído pelo comitê organizador no programa das Olimpíadas de 1904, em Saint Louis, Estados Unidos. Como ambos os times que competiram eram dos próprios Estados Unidos, porém, o COI optou por não sancionar as medalhas, retirando o hurling do programa oficial.

Antes de encerrar este post, eu queria aproveitar para dizer que, além do hurling (e, de certa forma, do camogie), a GAA regula três outros esportes tradicionais irlandeses (chamados de "esportes gaélicos", como eu mesmo escrevi ali em cima): o handebol gaélico, esporte semelhante ao squash, mas jogado com as mãos ao invés de com raquetes; o rounders, que se parece um pouco com o beisebol; e o futebol gaélico, sobre o qual eu gostaria de tecer algumas palavrinhas. Lá no início do post, eu falei que o hurling é o segundo esporte mais popular da Irlanda. Pois o futebol gaélico é o primeiro.

Embora não seja tão antigo quanto o hurling, o futebol gaélico também é muito antigo, com sua primeira referência escrita datando de 1308. Sua Era de Ouro ocorreu cem anos antes da do hurling, no Século XVII, quando a nobreza passou a patrocinar jogos valendo prêmios em dinheiro. No Século XIX, graças à chegada de dois esportes importados da Inglaterra, o futebol e o rugby, a popularidade do futebol gaélico foi diminuindo, até que ele quase caiu no esquecimento. Foi a GAA que o salvou, codificando suas regras em 1887, e passando a promover campeonatos por toda a Irlanda.

camogieCuriosamente, a fórmula encontrada pela GAA para popularizar novamente o futebol gaélico foi torná-lo o mais parecido possível com o hurling. Assim, o tamanho do campo, o número de jogadores e de árbitros, as posições e funções de cada um, a duração do jogo e a marcação da pontuação são idênticas às do hurling. A diferença é que os jogadores do futebol gaélico não usam tacos, usando suas mãos e pés para transportar a bola - semelhante a uma bola de vôlei, com entre 69 e 74 cm de circunferência e 370 e 425 gramas de peso, feita de couro e inflada.

Assim como no hurling, um jogador não pode dar mais de quatro passos carregando a bola nas mãos, devendo quicá-la no chão, como no basquete, ou soltá-la e chutá-la de volta para as mãos; é proibido, entretanto, jogar a bola para cima com as mãos e pegá-la de novo mais adiante. Um jogador também não pode quicar a bola duas vezes seguidas (ou seja, dar quatro passos, quicar, dar mais quatro e quicar de novo), embora possa chutá-la de volta para as mãos quantas vezes seguidas quiser. Se a bola vier correndo pelo chão, o jogador também não pode pegá-la com as mãos, devendo levantá-la com o pé antes. Não é permitido, porém, conduzir a bola com os pés, como no futebol, o que na prática proíbe dois chutes seguidos sem que a bola tenha passado pelas mãos do jogador. Também como no hurling, um jogador não pode passar a bola de uma das mãos para a outra, nem arremessá-la para um companheiro, embora possa passá-la com um chute, ou batendo nela com a mão espalmada ou fechada. Finalmente, os pontos podem ser marcados com chutes ou batendo na bola com as mãos, mas um gol só pode ser marcado com a mão se a bola vier pelo ar, partindo de outro jogador ou após quicar na trave, e o jogador atingi-la com a mão fechada. O futebol gaélico não é um jogo de contato físico como o rugby, o máximo que se permite é um eventual encontrão ombro a ombro e bater na bola para que o outro jogador a solte; jogadas mais vigorosas que estas são punidas com faltas.

O futebol gaélico também existe em versão feminina, regulada pela Ladies' Gaelic Football Association, filiada à GAA. Assim como o hurling e o camogie, o futebol gaélico feminino tem algumas diferenças em relação ao masculino, mas elas são apenas seis: uma jogadora pode pegar a bola do chão diretamente com as mãos, desde que esteja de pé; é permitido passar a bola de uma das mãos para a outra; a goleira pode repor a bola em jogo soltando-a de suas mãos e chutando-a antes dela chegar ao chão (no masculino, a bola é obrigatoriamente colocada no chão antes do chute); o jogo dura dois tempos de 30 minutos cada; o jogo termina automaticamente no final do tempo (no masculino, assim como no hurling, o árbitro pode dar acréscimos); e é proibido qualquer contato físico, inclusive ombro a ombro e bater na bola se ela estiver nas mãos de uma oponente.

Assim como o hurling, o futebol gaélico hoje já é praticado em mais de 20 países ao redor do mundo, graças à atuação das sete GAAs. Por também ser um esporte amador, porém, jogos entre clubes de GAAs diferentes são praticamente inexistentes, com duas gratas exceções sendo um time de Londres e um de Nova Iorque, convidados a disputar o All-Ireland Senior Football Championship todos os anos - embora jamais tenham conseguido resultados expressivos. Também não existem seleções nacionais de futebol gaélico, salvo a seleção masculina irlandesa, que uma vez por ano joga contra a seleção australiana uma partida de "international football", com regras híbridas do futebol gaélico e do futebol australiano - que também não tem nada a ver com o futebol, usando bastante as mãos e tendo até mais contato físico que o rugby, se é que isso é possível.

As principais competições do futebol gaélico são a já citada All-Ireland Senior Football Championship, sua versão feminina, a All-Ireland Senior Ladies' Football Championship, e a National Football League (que, além de compartilhar o mesmo nome com a famosa competição do futebol americano, compartilha também a mesma sigla, NFL), todas competições nacionais irlandesas. Assim como o hurling, o futebol gaélico foi disputado durante os Jogos Olímpicos de 1904, mas, como ambos os times envolvidos na disputa eram dos Estados Unidos, o COI não referendou as medalhas, e não o incluiu no programa oficial.
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